6 de maio de 2014

Resenha do Filme: Metro Manila

Por Eripetson Lucena

O filme indie britânico do ano não é falado em inglês e nem tão pouco explora paisagens londrinas ou dramas pessoais de habitantes da ilha da rainha. Começa nas remotas plantações de arroz na zona rural filipina e arremessa brutalmente seus personagens ao intricado mosaico urbano da capital Manila, uma das cidades mais problemáticas e pobres do planeta. Esta drástica mudança de perspectiva é corajosa e digna de mérito e confere interesse a obra do diretor Sean Ellis. 

O calvário de uma pequena família filipina que migra pra cidade grande em busca de trabalho e se depara com a brutalidade do lugar deve ter seu apelo pra expectadores da rica Europa e exala sua suposta crueza “sui generis”. O engajamento do cinema com estas questões sociais é sempre celebrado no Ocidente rico e representa escolhas estéticas e temáticas que parecem deslumbrar jovens cineastas. E é claro, é um caminho louvável, sem duvida.

Para o cinéfilo atento, entretanto, não há como ver “Metro Manila” sem o filtro do olhar de cineastas do próprio lugar como Brillante Mendonza. Ao longo de sua filmografia, ele tem destilado um rosário duríssimo e inexorável da Manila moderna, tecendo crônicas inflexíveis e sem concessões das problemáticas sociais que assolam o seu país. “Lola”, o premiado em Cannes “Kinatay” e, sobretudo o polemico “Serbis” são eficientes e indigestos retratos de uma putrefação moral e social de um lugar onde a pobreza e o caos urbano são latentes e chocantes. 

Dentro desta perspectiva, o filme de Ellis apresenta alguns poréns que, se não compromete a obra como um todo, não permite que o expectador concilie tão pacificamente sua louvável tentativa de destilar seu retrato da capital Filipina. A linearidade de “Metro Manila” acrescida do tratamento bem ocidentalizado que procura, por exemplo, pontuar alguns momentos da trama com um uso incomodo da música (em alguns momentos ela chega a ser usada de forma muita mais desonesta que desconcertante, como intentaria o diretor) é um recurso que serve a trama, mas que a empobrece ao mesmo tempo. A força do tema se dilui em uma cadência de previsibilidades, somente alterada no final da película, mas tarde demais para salva-la da mesmice.

O fator linearidade também prejudica a construção dos personagens chaves. Na verdade, Oscar, sua esposa e seu colega de trabalho não carecem de muito aprofundamento uma vez que tudo é muito dado na trama e ao expectador é deixado muito pouco a descobrir, préstimo de um didatismo no qual o roteiro se enredou irresistivelmente. Somente um expectador muito ingênuo não saberia no primeiro momento em que Oscar é alvo das “bondades” de Ong que não existem coisas como um jantar grátis numa selva como aquela. Da mesma forma, os reveses em série sofridos initerruptamente pela família de camponeses acabam por não mobilizar de forma mais drástica (como o faz Mendonza em “Serbis”, por exemplo, lançando mão de uma simplicidade estética e narrativa dezenas de vezes mais eficientes e sofisticadas que os recursos de Ellis) pelo simples fato que eu preciso de música, de sutis camadas de melodrama e até de uma virada policial na trama pra tentar compensar a previsibilidade do roteiro.

Todos estes problemas alinham “Metro Manila” com o “modus operandi” ocidental de fazer filmes, mas este afastamento de outras tentativas, inclusive asiáticas, de abordar a temática, pode não ser necessariamente uma falta, mas é um prego pontiagudo na cadeira do expectador. 

O filme, entretanto não perde em denunciar as mazelas urbanas da capital Manila e é dotado de sensibilidade, como na delicada sequencia do banho de chuveiro ou nos impagáveis momentos da linda interpretação da filhinha do casal, uma atuação denunciada por uma sucessão de closes certeiros que capturam, ao longo da película, olhares e lagrimas que comunicam enormemente. Nunca temos certeza se uma criança de tão pouca idade atua de fato, (a exemplo da indicada ao Oscar Quvenzhané Wallis, do maravilhoso “Beasts of the Southern Wild”) o que reforça a boa direção de atores de Ellis que conseguiu capturar momentos de pura beleza artística e emocional da pequena atriz.

Se não é uma obra prima, “Metro Manila” é satisfatório e faz de Sean Ellis um nome de expectativas.

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