6 de março de 2014

Resenha do Filme: O Lugar Onde Tudo Termina

Por Eripetson Lucena

Reza a lenda que o primeiro filme de Derek Cianfrance “Brother Tied” nunca foi lançado comercialmente. O interesse arqueológico da cinéfila por fósseis desta natureza é incrivelmente atualizado depois de “Blue Valentine” e agora “The Place Beyond the Pines”. Cianfrance mobilizou meio mundo com o seu primeiro/segundo filme, uma história de amor adulta, sóbria, que se constrói a revelia das concessões idiossincráticas que idiotizam o gênero, notabilizada também pelas atuações monumentais de Michelle Williams e Ryan Gosling, um ator que tem corporificado os tipos mais subversivos dos últimos anos no cinema, tudo isso com um talento extraordinário.

A confirmação da maestria de Cianfrance vem em tons de trombeta que anunciam uma cavalaria: The Place Beyond the Pines, seu segundo/terceiro filme é um portentosa história tripartida, que apoiada na eficácia da narrativa, na destreza da direção e no elenco afiado, revela um diretor montando seu puro sangue pedindo passagem em meio a multidão. “The Place...” funciona como uma história não necessariamente por que lança mão da habitual linearidade, mas por conferir-lhe um tratamento diferenciado.

Aqui ele conta três histórias, cujos personagens alvejados pela cronologia, representam as disposições estanques de cada uma delas. De tanto dever ao passado, mesmo sem saber que se deve, eles passeiam pela existência, vendo a tragédia dos seus erros se atualizarem nos seus filhos. É nesse contexto que a operação extraordinária do que chamamos de destino é versada aqui sem muitos recorte, sem muitas explicações, sem arrodeios ou chaves interpretativas: dos personagens é dado meias-histórias de onde o expectador deve deduzir para complementar, se é que este exercício é salutar em um filme como este.

A primeira parte detêm-se no motoqueiro vivido por um Ryan Gosling louro, mais selvagem que nunca, solto no mundo, que, sem avisos, descobre-se atado a um universo outro, diferente do seu particular sem leis, por causa de um filho que não sabia que tinha. A presença de Gosling é tão enigmática, magnética e sobriamente construída, que pensamos a principio que o filme trata-se dele. Depois, tem-se o drama do personagem de Bradley Cooper, um policial correto e idealista, cuja tarde ensolarada em que o seu destino cruza sua viatura com a moto selvagem de Luke Glanton mudará pra sempre sua vida.

Cooper está acumulando créditos a suficiente para deixar de ser associado ao cara de “Se Beber Não Case”. Este filme pode ser o seu passaporte pra transpor essa mitificação. E por fim, em um arremate de ares fatalistas e escabrosos, nos deparamos com as agruras adolescentes dos filhos de ambos. E qualquer coisa que for dita além disso, destruirá a sofisticação com que a história é montada.

Eu, já que não aprecio nem mesmo ler sobre os filme que vejo ou ver sequer trailer, tive todas as surpresas possíveis e apreendi as benesses de um roteiro interessante que consegue elaborar com eficácia as ligações emocionais e factuais dos personagens sem fazer uso de um único recurso de flashback por exemplo. Depois desses dois petardos, eu acredito piamente em Cianfrance. Mostrou a que veio.

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